A cerimônia de lançamento, realizada no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, trouxe à tona uma frase de Bertolt Brecht: “Não digam nunca, isso é natural, a fim de que nada passe por ser imutável”. A mensagem ressoou como um chamado à transformação, enfatizando que as vozes de comunidades historicamente marginalizadas são fundamentais na construção de um mundo mais justo e sustentável.
Com foco nos três eixos principais da presidência brasileira do G20 — combate às desigualdades, sustentabilidade e reforma da governança global — o Favelas 20 (F20) apresentou recomendações que conectam desafios socioeconômicos e ambientais de forma integrada. Entre as pautas prioritárias, destacam-se:
•Combate à pobreza, fome e desigualdades;
•Promoção da saúde mental e segurança pública;
•Acesso à água potável, saneamento básico e higiene;
•Resiliência frente a desastres naturais;
•Inclusão digital e cultural;
•Finanças sustentáveis.
Para René Silva, cofundador do Favelas 20, a inclusão dessas pautas no debate internacional é um avanço para a representatividade das favelas: “As vozes das realidades periféricas são frequentemente silenciadas. Os nossos desafios e nossas perspectivas são deixados de lado. Estamos aqui para mostrar que as favelas fazem parte da solução e podem contribuir com políticas públicas significativas”, colocou ele na oportunidade.
Colocando a Favela no Centro das Decisões
O F20 reforça o papel central das favelas e periferias na construção de políticas duradouras. O acesso a saneamento básico, tecnologias digitais e oportunidades econômicas foi apontado como essencial para o desenvolvimento local e como forma de combater a exclusão estrutural. Representantes como André Guterres, do projeto Rolé Favela Geek, alertaram para a necessidade de garantir a inclusão digital e o acesso à informação como um direito humano, especialmente em áreas afetadas por conflitos internos.
Para Thainar Xavier, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), iniciativas como o F20 representam um movimento histórico de reivindicação de direitos e ampliação de voz para a população das favelas, que compõem 22% da população carioca. Adriana Sotero, da Fiocruz, reforçou que água e saneamento básico são direitos que devem ser defendidos publicamente, ressaltando a importância de um debate sobre privatizações e acesso universal a esses serviços essenciais.
Desafios Locais, Respostas Globais
O Favela 20 propõe uma nova abordagem para o desenvolvimento sustentável, reconhecendo a diversidade de desafios enfrentados por cada comunidade. Kaê Guajajara, indígena do Complexo da Maré, destacou o papel das favelas como espaços de resistência e a importância de construir políticas públicas que respeitem as particularidades dos povos indígenas e afrodescendentes.
Com esse lançamento, o F20 estabelece marco para a inclusão das vozes periféricas nas políticas globais, trazendo soluções criadas por quem vive diariamente os desafios de suas realidades. A mensagem é clara: como dizia a escritora Carolina Maria de Jesus, “O que me prejudica não é o que eu sou, é o que os outros pensam que eu sou.” E o F20 mostra que as favelas não são apenas cenários de problemas, mas também de potência e inovação para um mundo mais inclusivo e solidário.
Comentários: